Adrenalina

16:11


Era a garota mais linda que conheci. Laura, com olhos pretos que eu podia jurar que eram castanhos e cabelos castanhos que eu podia jurar que eram pretos. Não seguia padrões de beleza, poderia listar todos seus defeitos em alguns segundos, mas seu rosto me fascinava. Era linda pra mim e para outras pessoas. Podia odiá-la e fingir que todos aqueles defeitos me incomodavam e iriam acabar com essa atração, mas cada vez que meus olhos encontravam os dela, voltava a amá-la e colocá-la em um pedestal acima de todas as minhas preocupações escolares.
Podia tentar olhar pra janela, encarar minha caneta, prestar atenção no quadro mas a presença dela me deixava perturbado e me tornava a pessoa mais ansiosa do mundo. Odiava os minutos que ela era minha, mas odiava mais ainda os minutos que não era. Odiava tudo nela. Odiava sua personalidade forte, odiava sua presença e odiava o fato de que ela era uma das poucas coisas e pessoas na minha vida que eu não podia controlar. Nem ela podia se controlar. 
Não era apaixonado por ela, mas era uma atração forte e inexplicável. Não pensava em nosso futuro, sabia que não teríamos um e tinha mil razões para não querer tê-la nele. Não conseguia planejar nada perto dela. Só pensava na intensidade do presente. Pensava em quanto gostava de vê-la com os cabelos bagunçados e sem nada para cobrir seu rosto. Sem rímel e sem batom. Sem nenhuma maquiagem. Pensava em seu toque.
Ela não se preocupava comigo, não se preocupava com si mesma e nem com nada. Pelo menos, nunca aparentou pensar em algo. Eu era só mais uma parte pequena e insignificante da vida incontrolável e despreocupada dela. Eu era só um experimento, um coração que ela podia brincar como uma criança.  Mesmo assim, não conseguia relaxar sabendo que ela poderia estar por aí agindo por impulso como ela age comigo. 
As pessoas se drogam e bebem pois a única coisa pior que a ressaca do dia seguinte é a própria vida delas. E eu estava me drogando cada vez mais com seus beijos. Era a única adrenalina que poderia manter na minha vida monótona e cansativa. Quanto mais você não faz nada, mais você fica cansado. Cansado de sentir tédio, cansado das poucas coisas que você faz. E eu estava cansado de ser tão submisso ao seu sorriso, cansado de sentir que estava pressionando-a e cansado de não poder comandar o que acontece depois. 
E por fim, estava cansado de só amá-la por um simples sentimento físico. Amá-la incondicionalmente por algumas horas e depois odiá-la por dias. Não queria que ela me amasse e não queria amá-la. Gostava do que tínhamos. Gostava de não ter que corresponder seus sentimentos, mas estava cansado de não sentir nada. Cansado de não ter estabilidade. Cansado de mentir. Na verdade, não estava cansado de não sentir nada, mas sim, cansado de não saber o que sentia. Não poder distinguir amor e ódio. 
Mas mesmo assim, não queria que tudo acabasse. A única droga pior que o que tínhamos era a droga que era minha vida.
E mesmo assim, ela era a garota mais linda que conheci.

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