Sobreviventes

19:28


Parece que foi ontem que tive meu primeiro contato com a seguinte palavra : depressão. Parece simples, né? Nem é tão grande assim... Pois é, eu não sabia o impacto que uma simples palavra teria na minha vida.
Ela veio depois da tristeza e trouxe uma amiga, a Ansiedade. Era pequena, andava atrás de mim e não me atrapalhava. Depressão não era minha amiga, mas vivia na minha casa. Não nos falávamos, nem a conhecia, mas sabia que ela estava perto de mim. Já a Ansiedade era aquela que chegou invadindo, abriu as malas, colocou tudo no meu quarto e deitou na minha cama. Não era desejada, mas a deixei ficar. 
Ela se acostumou comigo e começou a ignorar meus limites. Enquanto eu estudava, ela sentava na mesa ao meu lado e começava a conversar. Quando eu comia, ela fazia de tudo para me fazer perder a fome, ou sentir mais ainda. Na hora de dormir, ela gritava. Como se não bastasse, ela interrompia minhas conversas, me proibia de falar. Toda manhã, quando eu ia sair da cama, ela subia em cima de mim. Já não era tão pequena, a Ansiedade. Era grande e começara a ficar pesada, até que um dia, quando ela subia eu não a empurrava mais.
Ansiedade era teimosa e brigava todo dia com a Motivação. Colocava medo na Energia, expulsava a Fome e não vou nem falar o que ela fazia com o Sono. Não me deixava levantar da cama, mas também não me deixava dormir. Foi quando ela me apresentou o Medo. Eles trabalhavam juntos para infernizar a minha vida. Quando eu decidia falar, eles me olhavam de forma que eu desistia na hora e se eu fosse sair de casa, eles me seguiam até que eu voltasse. Todas as noites, os dois deitavam na cama comigo enquanto Depressão assistia e ia para seu quarto.
Naquela noite, esperei que Ansiedade e Medo estivessem dormindo e saí do quarto. Fui para a sala e lá estava ela, acordada. Decidi confrontar a Depressão de uma vez por todas, gritando. Perguntei o porquê de ela estar na minha casa se nós nem nos falávamos. Ela disse que eu não era o motivo de sua estadia. Gritava mais alto, mandando que ela fosse embora e levasse seus amigos, mas ela continuou com seu tom baixo e monótono, falando que não poderia sair pois sua hospedeira a deixava ficar e que eu estava mantendo seus amigos aqui, ela só os trouxe pois eu os chamei. Ela continuava a falar mas eu não a ouvia. Gritava para que fosse embora, dizia que ela só atrapalhava minha vida. Gritava tão alto que acordei a Ansiedade. Quando ela decidiu participar da conversa, virei para a mesma e disse :
- Vá embora.
Então ela falou, seu tom de voz era calmo :
- Então me deixe ir.
E ela foi. Logo, a Motivação, a Energia, a Fome e o Sono voltaram. Não posso dizer que foi para sempre, na verdade, ela deixou até a escova de dentes aqui. A Depressão foi com ela, mas voltou logo. Nós continuamos sem trocar uma palavra. O Medo virou meu amigo e só vem nas situações de perigo, mas quando sua amiga volta, ele esquece do nosso combinado e decide fazer o que ela manda. A Ansiedade ainda ignora meus limites e volta quando bem entende, fazendo tudo o que ela sempre fez. A única diferença é que agora ela não fica por muito tempo, e se eu abro a porta, ela já sabe que tem que sair.
Existem várias como ela pelo mundo todo, cada uma acompanhando pessoas como eu, como você. Não só ela, mas a Depressão também, e entre outros amigos. Cada uma age de forma diferente, mas todas vão embora da mesma forma. Você precisa lutar, grite com qualquer um que tenha apresentado vocês, pois ela nunca vem sozinha. Não é frescura e não vai passar se você não lutar. E não é nenhuma vergonha precisar de ajuda pra isso. 
E parabéns por todos os dias que passam, pois de uma forma, todos somos sobreviventes. 

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3 comentários

  1. Texto sensacional!!!! Parabéns a escritora sobrevivente

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  2. Sem dúvidas um dos melhores textos que você já escreveu, seu talento é admirável! Li esse texto anos atrás e tô lendo hoje de forma diferente. Obrigada por ele <3

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