Rotina

14:23


Almoço.
A mesma rotina se inicia. Chegar em casa com a cabeça explodindo de preocupações. Eu nem trabalho ainda, não deveria perder meu tempo prejudicando meu futuro, deveria aproveitar enquanto ainda não tenho nenhum problema real... Eu não consigo. Ligo o computador e minha série favorita está pronta para tentar me entreter. Já vi esse episódio. Reviro a comida com o garfo enquanto olho para a tela. Você não é nenhum romance, nenhuma das minhas histórias de amor, não deveria gastar tanto do meu tempo assim. Eu não posso ficar triste por você. 
Escovar os dentes.
Sigo o comando e vou direto para o banheiro. Continuo a rotina, como sempre. Você não tem o direito de mudar algo na minha vida. Esse clichê adolescente me cansa, mas é diferente. Tenho a impressão de que, em alguma vida passada, eu fui uma solterona que tinha muitas histórias bobas de ilusões amorosas pra contar, sozinha nas festas de família. Ah, droga, estou mastigando a escova de novo. Você parece minha escova de dentes mastigada. 
Dever de casa.
Coloco os livros na mesa e olho fixamente para a folha de papel, não consigo identificar as palavras. Droga de hipermetropia. Coloco o óculos e nada melhora. Meus olhos estão molhados, ah, que droga. Chorando mais uma vez. Seco os olhos rapidamente e me recuso a pensar. Tento focar em biologia e respiro fundo. Desbloqueio a tela do meu celular e deslizo os dedos sobre a tela. Visto por último às 12:02. Bloqueio a tela e consigo identificar as palavras. Ao trabalho.
Música.
Meu momento de descanso. Espero não pensar em tudo o que aconteceu. " Everyone thinks that we're perfect ", a voz da Melanie Martinez é agradável. Você não é fã dela, certo? Consigo, pela primeira vez, te esquecer e afundar nas notas musicais. Entro em meu próprio mundinho, você sempre criticou a forma em que eu fico distraída facilmente. Não é tão comum para uma garota como eu. Mas sabe como fico relaxada, com o corpo mais leve. Então, na última música, memórias conseguem me alcançar. Droga. Desconecto o fone de ouvido.
Jantar.
Falo com a minha mãe e começo a arrumação da mesa. Toalha, copos, água, talheres, limão, pratos. Sentar. Comer. Explico a situação para a minha mãe e ela me enche de perguntas. Não quero falar nada, só encher a barriga o suficiente para explodir e nunca mais ter que encarar seus doces olhos de novo. São pequenos, nem um pouco parecidos com os meus que estão sempre bem abertos e atentos. Ótimo,ela vai tirar a mesa. Sento no sofá e assisto mais um episódio de Grey's Anatomy.
Banho.
A água escorre pelas minhas pernas enquanto eu esfrego meu peito. O cheiro de camomila é forte quando o meu rosto está coberto de sabonete. Anoto mentalmente o trocadilho com meu nome. Eu adoro rir das minhas próprias piadas, e elas realmente são tão ruins que chega a ser ridículo. Meu pescoço está doendo. Minha garganta também. Minha pele está coçando e quando eu arranho o meu braço com as minhas unhas curtas, ele fica em um tom avermelhado. Pego a toalha e saio do banho, recebendo o vento em meu corpo. Esqueci de fechar a janela.
Cama.
Deito e seguro meu ursinho de pelúcia, um abraço apertado e sufocante para uma pessoa. Terminei a rotina. Não gastei tempo com você. Deixo as lágrimas rolarem, mas o dia não acabou ainda. Perdi a aposta, uma daquelas que eu sempre faço comigo mesma. Fico feliz com o resultado, menos tempo com você e mais tempo comigo mesma. Mas não conseguirei aguentar por muito tempo, apesar de ficar levemente tranquila sabendo que você já arranjou alguém para me substituir. 
O problema é o ponto em que eu cheguei, saber que o sofrimento agora é rotina. 

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