Turbulência

15:24


Era minha primeira viagem sozinha. 40 minutos, Rio de Janeiro para São Paulo e no dia seguinte, o caminho de volta. Gostava muito de voar, principalmente com meus pais e amigos, mas dessa vez, estava um pouco desanimada. Primeiro pois tive que ir de casa ao Galeão pois não existiam voos disponíveis que saíam do SDU, segundo pois sabia que era uma viagem de trabalho. Não iria me divertir ou criar grandes lembranças.
Não que minha primeira viagem de trabalho não fosse algo memorável, pelo contrário, era um marco na minha vida profissional. O blog me levara a tantos lugares e agora estava me levando para uma reunião de trabalho em São Paulo. Era isso em que tentava me concentrar enquanto comprava uma revista adolescente ( acredite, são ótimos materiais para postagens ) e um pacote de balas Fini. Não eram grande coisa mas tinha saído de casa já alimentada.
Sentada entre duas cadeiras, estava ansiosa para saber quem seriam meus companheiros de viagem. Não era um casal nem uma família, pois estariam sentados juntos. Primeiro, uma senhora que parecia nervosa, cerca de 40 anos, gordinha, loira e com olhos bem escuros. Logo após, um senhor que iria sentar na janela, parecia ter passado dos 60, tinha barba e usava um óculos com um cordão. Os dois eram bem simpáticos e logo todos nós estávamos conversando.
A senhora nunca tinha viajado de avião e estava indo visitar por uma semana sua filha que se mudou para São Paulo,  no começo do voo ela parecia muito nervosa e ansiosa, então o senhor, para poder acalmar a mulher, começou a contar de sua vida. Ele passou a vida viajando o mundo até encontrar o amor de sua vida, na Índia. Eles lutaram muito e ela finalmente conseguiu morar no Brasil, onde eles tiveram 3 filhos. Hoje em dia ele escrevia para uma revista de viagens e contava suas histórias e como eu, estava visitando São Paulo para cuidar de assuntos de trabalho. 
Estava tudo bem, a conversa foi acabando aos poucos. Até que uma terrível agonia me atinge : o avião estava passando por turbulências. Sempre aguentei turbulências sem me preocupar, mas naquela hora, acho que tive uma crise de pânico. Meu coração começou a bater mais forte e não conseguia respirar. Estava tonta e nervosa, mas não fazia escândalo. Os meus dois companheiros de viagem tentavam me tranquilizar, até que o senhor me disse : "Já parou pra pensar que essa turbulência não está acontecendo só no avião, e sim na sua cabeça e coração? "
Foi quando entrei num momento de reflexão. Fui me acalmando lentamente sem falar nada, a mulher do meu lado nem se importava mais com a turbulência e seu nervosismo tinha acabado, assim como o meu. Lembrei de tudo que estava passando no momento mas fingia estar bem : o fim de relacionamento, a morte de um parente, problemas no trabalho e de saúde. Estava aguentando tudo sem derramar uma lágrima, o que me deixava confusa. Uma sensação muito forte de felicidade me conquistou repentinamente : estava finalmente me entendendo. 
Nem percebi, mas a viagem havia acabado e as pessoas estavam preparando para se levantar. Os meus companheiros perguntaram se estava tudo bem e se aquilo já tinha acontecido alguma vez, eu respondi que não e quando nos levantamos, abracei os dois e agradeci pela melhor viagem da minha vida. Os dois sorriram e saíram do avião. Quando estava quase saindo do aeroporto, encontrei o senhor fumando e ele segurou minha mão e disse : "Parece que você encontrou sua verdadeira turbulência." 
Concordei e saí do aeroporto, ansiosa para chegar no hotel, tomar um banho e dormir. Teria um longo dia depois, com muitas turbulências. 

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