Saudade

20:03


Cresci entre duas casas, então quando estava em uma, dava saudade da outra. 
Vamos apenas dizer que conheço o sentimento.
Li por aí que só Brasil tem uma palavra para saudade, acho que é porque somos tão calorosos que acabamos nos apegando a qualquer um. Cada abraço, beijinho na bochecha ou "valeu,cara" nos deixa com gostinho de quero mais. Foi daí que surgiu a saudade, eu acho. É dessa recepção carinhosa que agrada, e quando acaba, desagrada. É aquele "bom dia" que realmente nos alegra e que duas horas depois, perde o efeito. 
Quando era pequena, sentia saudade de pessoas. Um bebê que sentia saudade do colo da mãe. Quando cresci, comecei a sentir saudade de lugares e todas suas características : o cheiro, a luz, a cor, o barulho... Depois de um tempo, juntei os dois e comecei a sentir saudade do sentimento : era sentir saudade do momento, das pessoas, do lugar, do que senti ali. Era sentir saudade da felicidade, do carinho, da animação e até da ansiedade. Sentia saudade até da saudade.
Principalmente, sentia saudade das viagens : da animação nas praias de Rio das Ostras, da diversão nas ruas de Búzios, da ansiedade ao entrar nos parques em Orlando, da admiração por tudo que sempre vi em filmes, em New York, pela surpresa de ver a Cordilheira dos Andes, no Chile, pelo medo das montanhas-russas no Beto Carrero e pelo calor de estar no meio de uma multidão no Lollapalooza. Cada momento apertava-me o peito quando lembrado. 
Além disso, lembrava de cada pessoa e cada ação em cada um desses momentos : de rir com a minha família, de tirar fotos com meu pai, de comemorar com a minha mãe, de cada rosto sentado no gramado. Lembrava de cada música, das batidas animadas, do nascer do sol, do calor de 39 graus ou do frio de 8 graus, de ver meus pés balançando acima de uma cidade inteira e de sentir minha mão na areia da praia. 
O problema era que a saudade doía. Chorava, apegada ao passado. Toda vez que o presente castigava, o passado me abraçava, e assim, vivia numa prisão de memórias. Eu acho que é por isso que os outros lugares nunca nomearam a saudade : dar um nome significa que algo está tão presente na sua vida que não pode ser ignorado. Não só nomeava a saudade todo dia antes de dormir mas também dava um sinônimo pra ela : dor.
Até que, um dia, o passado começou a desagradar. Não lembrava mais de coisas boas. Foi quando decidi pensar no futuro e me concentrar em todos os próximos momentos felizes que ainda terei. Desapeguei do passado, até porque quem vive dele é museu. Pensando no futuro, estava sempre preparada para tudo e o presente já não me castigava mais. Mas não pense que esqueci tudo ou que não choro às vezes.
Afinal, dá saudade, né?

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2 comentários

  1. Adorei, você escreve bem! Também escrevo no meu blog, adoro isso. É como passar um pouco de você para alguém, para quem lê.
    Parabéns pelo seu blog!

    https://amebatom.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Brigada <3 Escrever é um alívio para quem vive cheia de pensamentos...
      Brigada mesmo <3

      Beijinhos com chá!

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