Princesa da Meia-Noite

21:03

Era só uma garota. De acordo com a visão alheia, uma garota qualquer, só ocupando espaço no mundo. Mas talvez fosse um pouco especial por dentro. Brincava de organizar palavras misturadas com sentimentos para formar textos. Sua pequena insanidade era sua maior qualidade e seu pior defeito. Sua criatividade iria além dos limites da normalidade, por isso, vivia distraída, tropeçando nos próprios pés, vivendo em um mundo de fantasia que não podia controlar.
Tinha medo pois via mais do que os outros, observava cada detalhe de cada pessoa. Andava com passos lentos e observava mais o chão do que o seu caminho. Para ela, o significado das palavras iria além do que estava no dicionário, ele dependia da pessoa que falou, de sua experiência e da situação. Acumulava mágoas. Estava se tornando cada vez mais fria. A solidão estava virando mais atraente. Não demonstrava fraqueza, não demonstrava nem metade do que ela sentia.
Gostava de livros, principalmente contos de fadas. Era bem animada, quando podia, gostava de colocar os fones de ouvido e cantar até a dor passar. Adorava observar nuvens, via tantas coisas naqueles pedaços fofos de algodão. Gostava de ver filmes, se colocava no lugar dos personagens. Tinha uma facilidade enorme em fingir ser outra pessoa. Adorava ver as situações do cotidiano por outros olhos, mesmo sendo só por pensamento. Era sua forma de se livrar de sua mente perturbada. 
Sempre ouvia coisas que as pessoas não ouviam, a maior parte eram gritos. Talvez os próprios gritos. Sonhava alto. Odiava tumultos. Também não gostava muito de bonecas, desde que cresceu, elas se tornaram macabras partes de sua infância. Era surpreendente ver tudo aquilo. Ela tinha uma vida perfeita, quer dizer, quase. Mas tudo se tornava um sofrimento. Ver as pessoas, aguentá-las o dia inteiro... Era tudo obra de sua mente. Ela preferia viver isolada em seu mundo, escondido e imaginário. 
As coisas se tornaram tão complicadas para aquela garota. Ela enxergava tudo de uma forma diferente e ameaçadora, como eu disse, ela observava além do olhar da maioria. Procurava pessoas semelhantes. Era uma busca secreta, só eu sabia. Ela não tinha medo de morrer. Sua imaginação virou sua ruína. Eu, que sempre consegui ver tudo o que ela via, não consegui mais. Ela estava vendo coisas. Ela estava ficando louca. Ela foi se isolando cada vez mais, e mais, até viver em seu próprio mundo, sofrendo lá da mesma forma que sofria aqui. E então, eu nunca mais vi aquela garota. A tal Princesa da Meia-Noite. 


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2 comentários

  1. Amei o texto. Mesmo com o tom tristonho, melancólico e que me remeteu muito a uma certa histeria foi muito bem escrito. Usou muito bem esse estilo mais depressivo.
    Beijo

    http://essameninamoca.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Brigada mesmo <3 Eu usei toda minha inspiração nesse texto, tentei pegar meu extremo e misturar com uma personagem. Tipo, esse meu jeito sonhadora e colocar num extremo, sabe?
      Beijinhos com chá

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