Memórias ( Sonhos e Pesadelos )

18:44

Lembro perfeitamente da última vez que a vi.
Ela tinha uns 15, 16 anos, ou por aí. Tinha tingido os cabelos negros de vermelho selvagem. Sim, vermelho, pois acredito profundamente que aquilo não é ruivo. Ruivo é tão laranja e aquilo era tão vermelho. Sim, ok, voltando ao assunto principal. Passaram-se muitos anos e depois eu a encontrei no bar. Ela agiu como se não me conhecesse, achei que fosse a intenção dela, recomeçar. Mas depois de me contar que só se lembrou de mim perto do amanhecer, eu me assustei. 
Lia fazia isso de propósito,claro. Afastava todas as suas memórias durante a noite, criando uma nova vida. Ela odiava o que via de dia, então, eu a entendo perfeitamente. Mas nada disso foi culpa minha, então ela não tem absolutamente direito nenhum de afastar qualquer lembrança que tenha de mim. Eu não sou o culpado das coisas que sua mãe fez ou até seu estúpido ex-namorado. Eu só sinto muito pelo que ela sofreu, só isso. É complicado demais, mas eu posso tentar explicar.
Tudo o que sei era que a mãe de Lia era completamente pirada e precisava de tratamento e coisas assim. Mas ela fugiu com a filha e ninguém sabia onde elas estavam. Até que... A doida incendiou a casa. Lia não sofreu ferimentos ( além de uma mão queimada que até hoje ela esconde por baixo de uma luva ) mas ficou diferente. Depois disso ela começou a viver com seus pais adotivos. Foi assim que a conheci, ela morava na mesma rua que eu e precisava de amigos. 
Nós crescemos juntos e viramos melhores amigos. No fundo eu gostava de Lia. Então ela começou a me contar sobre sua "vida noturna" e eu fiquei assustado. Os pais dela também, eu acho. Era como se ela esquecesse de tudo assim que escurecia. Mas quando ficava de manhã, era como se ela lembrasse de tudo o que aconteceu em toda sua vida, o incêndio e sua mãe. Foi assim que a vi todos os anos, sofrendo toda manhã e limpando as lágrimas ao chegar na escola.
Foi com 15 anos que Lia começou a namorar um completo imbecil. O cara tinha diversas namoradas e vivia em brigas. Eu esperava mais dela, só que Lia conseguiu piorar completamente e se meter em mais brigas do que ele. Foi quando ela tingiu o cabelo. Soube essa noite que eles terminaram pois tiveram uma briga feia que resultou em diversos hematomas. Eu não pude acreditar naquilo. Então ela me mostrou a cicatriz na perna direita. Ah, isso definitivamente não é mais um dos sonhos da ex-ruiva.
Faz uma semana que encontrei Lia no bar, com o cabelo preto como a cor natural e um piercing no nariz e desde então eu não saio um minuto de perto dela. Parece que a mesma está mais emocional, chorona. Queria ter uma noção básica do que aconteceu nesse tempo todo. Pelo que eu sei, ela começou a cursar jornalismo e descobriu que sua mãe biológica estava internada em um hospital psiquiátrico. Mas o que eu realmente quero saber é sobre o maldito incêndio e a mão que ela esconde por baixo da luva. 
Você não está sozinha, Lia.

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4 comentários

  1. Juro que fiquei com inveja da liberdade da Lia. Acho que o ser humano é livre e ela é a síntese disso. E o cabelo vermelho? Lindo. (secretamente, eu queria ser ruiva, rs).

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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    Respostas
    1. Haha, valeu mesmo.
      Secretamente eu queria ter o cabelo preto, tipo, totalmente preto, ou então com mechas coloridas. Mas, eu tenho pequenos e grandes 12 anos e uma mãe que não me deixa nem colocar presilha com glitter então acho que eu não vou poder pintar o cabelo tão cedo...
      Lia é basicamente tudo o que tenho para expressar a liberdade que me sobra , já que não tenho o suficiente para fazer o que quero e não quero fazer o que posso.
      É, a vida tem dessas coisas.

      Beijinhos com chá

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  2. Amei, principalmente a história de vida que criou para a Lia, devia escrever mais dela, como uma sequência.
    Bisbilhotando a conversa das duas só digo, já tive cabelo vermelho vivo e preto hahaha sou muito entediada e mudar o cabelo é uma forma de não enjoar da minha cara. Quanto à questão da liberdade não posso reclamar, não tem nada que eu queira fazer que não posso, minha mãe segue à risca a ideia de que os pais são responsáveis até os 18, mas hoje, aos 23, me sinto muito mais livre porque hoje sei usar minha liberdade de forma muito mais satisfatória que há uns anos atrás. Acho que aprendizado e maturidade são tão bons quanto liberdade, porém os dois primeiros só se ganha vivenciando o último.

    Beijo Mia :)

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    Respostas
    1. Senti saudade, flor <3
      Não estou podendo entrar no PC, mas logo logo vou postar tanto que vai encher o saco, sério!
      Sim, provavelmente eu vou escrever mais sobre a Lia, estou planejando fazer uma série inteira dela ( como se fosse grande, haha, são só uns 5 capítulos )
      Então, espero seus comentários no próximo episódio/ capítulo , provavelmente, vou continuar a postar junto com o começo da Copa .
      Beijinhos com chá!

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